domingo, 4 de julho de 2010

Barracos e porcos: esse é o "desenvolvimento" faveleiro

Sem controle, barracos e porcos invadem linhas férreas no Rio

As linhas de trem da SuperVia e a Linha 2 do Metrô Rio sofrem com a favelização. Em um sobrevoo de helicóptero, foram constatadas situações surpreendentes: criações de porcos e barracos construídos embaixo de viadutos da linha férrea. E ainda há novas moradias em construção em diversos pontos.

Várias situações de risco foram flagradas nos ramais de Deodoro e Belford Roxo da SuperVia. Em Triagem, também há mais casas perto da linha do metrô e do trem. No local, as casas crescem verticalmente.

Na Favela do Jacarezinho, perto de um local onde havia uma Cracolândia, foram construídas várias casas e barracos embaixo do viaduto da linha do metrô. Alguns deles usam os pilares como parede. A linha do metrô passa em cima dos barracos e, como se não bastasse, a linha do trem passa em frente.

Moradores contam a rotina de probreza na linha do tremO nome de uma das comunidades que ficam embaixo da Linha 2 do metrô é Vila Vitória. Os barracos, em sua maioria, são feitos de madeira. Pouquíssimos são de alvenaria.

“A gente tem medo de ser atropelado pelo trem. Eu me preocupo muito com meus filhos”, diz a dona de casa Fátima Freitas de Andrade. “Mas o único caminho que eu tenho para levar meus filhos à escola é pela linha do trem”, admite ela.

Fátima conta que usa a linha do trem no dia a dia para ir ao médico ou fazer compras, mas ela também foi flagrada sentada nos trilhos com um dos filhos.

“Não temos água, nem esgoto. É tudo a céu aberto”, conta a dona de casa Marta Morais Bueno, que também é moradora da Vila Vitória. “Já tivemos vários incêndios. Até a minha casa já pegou fogo”, recorda.



Marta diz que é necessário que os moradores da comunidade sejam removidos o mais rápido possível. “E não pode demorar. A gente tem muitos problemas, muita doença por aqui. É uma luta”, conta Marta, enxugando as lágrimas.

Engenheiro de transportes responsabiliza o poder público

O engenheiro de transportes Sérgio Ballousier acompanhou o sobrevoo com a equipe de reportagem. Para ele a responsabilidade é do poder público. “Seja estadual ou municipal, é o poder público o responsável. As vidas dos usuários da ferrovia e também dos moradores das casas que estão coladas à via, sem nenhuma separação física, sem nenhum muro, estão em risco. A pessoa abre a porta de casa no leito ferroviário”, afirmou.


Os moradores não têm por onde passar, a não ser pelos trilhos do trem. Eles chegam e saem em uma rotina mais do que comum. E não são poucos. “Não há a menor condição. Não há possibilidade de você levar água ou esgoto. As construções são extremamente precárias”, analisa Ballousier.

Na altura de Benfica, na Zona Norte, ainda embaixo do viaduto do metrô, casas cresceram tanto que a caixa d´água de uma delas foi instalada na altura da linha férrea. Mais adiante, uma criação de porcos divide o espaço com as moradias. Em Madureira, no subúrbio, pessoas foram flagradas sentadas nos trilhos.



Comércio foi montado no meio da linha do trem

No Jacarezinho, existe um comércio bem movimentado no meio da linha do trem. Um kombi foi estacionada entre dois trilhos.

“É um comércio entre duas vias: uma mão onde circulam os trens e outra onde não circulam. É uma ‘via pública’ no meio da ferrovia”, descreve Ballousier. “Isso pode trazer problemas não só para quem está atravessando como para o operador do sistema. Onde está a separação física?”, critica o engenheiro.


“Muita gente até coloca roupa para secar. Mas a linha do trem é terreno público, e não privado. Quem não vê que está se construindo uma casa? Deviam avisar que não pode construir”, observa Ballousier. “Não se pode esperar que existam construções para que depois sejam retiradas. A medida tem que ser preventiva e não apenas corretiva”, ensina o engenheiro.

Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2010/06/sem-controle-barracos-e-porcos-invadem-linhas-ferreas-no-rio.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário