domingo, 11 de abril de 2010

A bica d'água digital

Não acho que esse imenso problema que é a questão das favelas, muito bem definidas pelo urbanista Alfred Agache como a "lepra da estética", será resolvido com acusações por parte dos entes da sociedade. Essa mesma política de hoje, que perversamente atua em prol da perpetuação do problema através de bancadas inteiras que sobrevivem através dos votos gerados pelos centros sociais de deputados e vereadores, é tão somente a repetição da famigerada "política da bica d'água" do governador Chagas Freitas.

A ocupação irregular de encostas, o lixo, as vielas, o nascedouro da violência e o território da ilegalidade e informalidade estão ali e o fracasso da política de urbanização defendida na década de 90, com seu maior expoente no "Favela-Bairro", são fatos concretos e precisam ser debatidos seriamente.

A "melhoria" mostrou-se ineficaz nas duas frentes em que julgava ser capaz de solucionar o problema, que é a integração da área degradada com o restante da cidade e a limitação do crescimento das favelas.

Estimulados pelas melhorias(maquiagens), contingentes cada vez maiores de pessoas correram para aquelas áreas e a sua geografia difícil tornou praticamente impossível a manutenção da presença da prefeitura ali. Fala-se muito em mansões, como se ser rico neste país fosse um grande pecado, mas é notório para qualquer pessoa que 10 ou 20 mansões numa encosta não destróem a natureza e nem propiciam condições para vans, kombis, mototaxis, biroscas, camelôs, pivetes e todas essas pragas urbanas aparecerem com a mesma velocidade e voracidade com que amontoados de centenas e milhares de barracos o fazem.

O Brasil pós-ditadura foi contaminado por essa crença(alimentada por sucessivos governos municipais e estaduais) de que o Estado deve propiciar às pessoas o que elas julgam ser necessário a elas. Daí quando se menciona a remoção de uma favela logo surgirem pessoas perguntando "mas vai colocar essa gente toda aonde?".

Não será em Ipanema.Não será no Leblon.Mas também não será em Seropédica. Meu avô trabalhou a vida inteira. É aposentado e mora em Pedra de Guaratiba, lugar CHEIO de espaços vazios. É longe certamente, mas porque ele, que contribuiu com impostos a vida inteira, mora lá (longe) porque é onde pode e pessoas que vão GANHAR casas tem que escolher onde morar?

Moradia é um direito, que deve ser garantido pelo Estado, mas não é moradia onde a pessoa quiser. Porque com essa história de que "favelados criaram relações pessoais nos locais" premia-se quem invadiu, quem fez gato, quem destruiu a Mata Atlântica com imóveis melhores localizados do que o de um senhor de quase 80 anos que nunca invadiu nada, nunca fez gato de nada e hoje mora longe porque é onde sua condição permite.

Moradia é direito, mas internet Wi-Fi DE GRAÇA que nem colocaram no Morro Dona Marta também seria necessidade básica? "Ahhhh então pobre não pode acessar a internet?". Pode. Pode e deve. Mas às suas expensas, não à minha, porque se eu não pagar meu Velox no final do mês, fico sem e tenho que pagar o deles também, através dos meus impostos. Isso é populismo. Isso é a bica d'água digital.

O Brasil, aliás, as classes pensantes saídas das universidades e cursos técnicos brasileiros, precisam parar com essa mania de satanizar as tais "classes dominantes", os "empresários" e o "capital". Amigos, se não existisse a tão mal falada "classe média" e os empresários, quem pagaria toda essa festa?

Bolsa isso, vale aquilo, maquiagem em vielas, demão de cal em barracos. Quem paga isso é a tal "elite" que não pode nem falar nada porque logo é apedrejada. Ou seja, pague e cale-se.

Não vejo problema nenhum em remover inteiramente essas favelas de morros cariocas e levá-las para conjuntos habitacionais em Campo Grande, Pedra de Guaratiba, Sulacap. Obviamente com infra-estrutura e transporte de qualidade 24x7, mas nesse locais onde o metro quadrado é bem mais barato do que Tijuca, Leblon, Barra.

Moradia é direito, localização é mérito.

E justamente por isso, acho uma aberração moradores da Teixeira de Melo em Ipanema pagarem um dos IPTUs mais caros da cidade e terem seus imóveis desvalorizados em algumas vezes até mais de 50% por conta da proximidade com a degradação que é a favela do Cantagalo, por exemplo. Lixo, flanelinhas, informalidade, criminalidade, fazendo de refém as pessoas que, no final das contas, se utilizam dos serviços da tal "mão-de-obra barata", também pagam com seus impostos o funcionamento de tudo o que vemos.

Porque pode parecer "insensibilidade", mas Kombi, Van, Mototaxi, Gatonet, camelotagem e flanelinhas geram ZERO de imposto porque são atividades informais.

Existe um problema que é o caos urbano e habitacional do Rio de Janeiro, mas não é atacando esse problema com um ainda maior que é a favelização que algo vai se resolver. É dar veneno de rato para curar bronquite.

Acreditem: isso mata o paciente.

Fonte: http://favelanao.blogspot.com/

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