segunda-feira, 12 de abril de 2010

Secretário de Defesa Civil defende remoção de favelas

7 de abril de 2010
Por João Marcello Erthal

As mais de 100 mortes em encostas do Rio trazem de volta a discussão sobre a remoção das comunidades em morros da cidade. Depois de percorrer as áreas mais afetadas pelas chuvas ao longo de terça-feira, o secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, em entrevista a VEJA.com, fez uma defesa radical da retirada das famílias que ocupam áreas de risco. "É preciso investir com seriedade e sem paternalismo nessas áreas. A remoção é a única maneira de garantir que não ocorram mais mortes nos deslizamentos que, muitas vezes, são inevitáveis em encostas íngremes", afirmou Côrtes.

O secretário se disse impressionado com as dimensões da tragédia. "Pela primeira vez choveu tanto em tão pouco tempo no Rio. Mas não se pode ignorar o fato de que 90% dessas mortes ocorreram exatamente porque as pessoas estavam em áreas que não deviam ser ocupadas. E todos sabemos que foram décadas de incentivo a essas ocupações ou, no mínimo, omissão dos governantes", disse.

O drama dos soterrados é, para Côrtes, uma oportunidade de se discutir a polêmica das remoções. Mas em ano eleitoral, o debate corre o risco de não romper a barreira de lama. Professor de engenharia costeira da Coppe/UFRJ, Paulo Cesar Rosman tenta desenterrar a discussão, sem sucesso, há mais de uma década. "Nos anos 80 essas ocupações foram incentivadas. Em seguida, vieram governos que simplesmente fecharam os olhos por uma razão bem simples: ninguém quer perder voto de quem mora nas encostas. Quem se levanta para protestar contra a remoção de comunidades de áreas de encosta posa de protetor, mas é traidor dessa população. Esse político que é contra a remoção não vai lá quando morrem famílias inteiras", criticou.

O risco de morar em áreas desmatadas sem controle, sem saneamento ou drenagem, é conhecido. Mas esperar que a remoção de favelas seja bandeira de político é esperar demais. "Isso nunca foi nem nunca será defendido em uma campanha eleitoral. A menos que seja uma cobrança que parta da população. Sem vontade política, mais do eleitor que do candidato, não vamos mudar esse quadro, que exige ainda investimento em transporte, infraestrutura, criação de serviços públicos longe dos grandes centros", afirma o professor.

Para Rosman, tão grave quanto o erro de quem ocupa a encosta é o de quem mora nos bairros que a circundam. Entre os benefícios da remoção, Rosman enumera o ganho para o meio ambiente, a recuperação do valor dos imóveis do asfalto e a entrega dos títulos de propriedade a quem hoje vive na ilegalidade. Diz ele: "Enquanto não chove fica tudo bem. Eles lá em cima, nós aqui em baixo. Mas quando vem a chuva é como um boliche. Morre quem está em cima e quem está pelo caminho."

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/secretario-defesa-civil-defende-remocao-favelas-546856.shtml?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

Um comentário:

Isabel disse...

Excelente texto. Sintetizou bem o problema das favelas.

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