sexta-feira, 9 de abril de 2010

Favelas perpetuadas. O Tabu das Remoções.

De um ano para cá a cidade do Rio de Janeiro recebeu uma nova politica de combate a criminalidade nas favelas cariocas. As Unidades de Policia Pacificadora (UPP) vieram com a estratégia de ocupar de forma permanente as comunidades carentes com policiais recém formados e assim (espera-se) sem os vícios da corrupção que tanto conhecemos. Junto com a ocupação pela policia vem também investimentos pomposos do Município, Estado e União.

São construídas moradias populares dentro da favela, postos de policiamento, planos inclinados, elevadores e toda infra estrutura básica. Um sopro de legalidade também chega através das contas de água, telefone e luz que tem que ser regularizadas, mesmo que alguns moradores não se sintam exatamente entusiasmados em pagar suas próprias contas. IPTU porem ainda é sonho distante já que o Município Carioca acha prudente isentar a grande maioria das residencias cariocas.Mas será mesmo que tantos investimentos são a solução que precisamos para nossa cidade? Será que “reformar” as favelas é a melhor opção?

Vemos que dinheiro não falta, falta é a vontade politica de apresentar e defender medidas que podem contrarias muitos futuros eleitores. Estas pomposas reformas agradam especialmente aqueles moradores das favelas. Uma parte da população que tem baixa instrução e tende a apoiar qualquer candidato politico que lhes traz algum beneficio. E a maneira mais demagógica e populista de fazer isso certamente é através dos programas de reforma e legalização das favelas, que se originalmente se instalaram d forma ilegal e precária. Ou seja: O estado esta tolerando o intolerável e mostrando que a ilegalidade sera avalizada e regulamentada.

Essa critica pode parecer um tanto quanto dura e preconceituosa com os moradores dessas comunidades. Mas vamos alem para explicar. Sou absolutamente a favor de uma politica publica, inclusive com subsídios e assistências àqueles que estão em pior condição econômica. Precisamos de politicas de habitação que incentivem e permitam que pessoas de baixa renda comprem os seus imoveis e permitam a estes uma vida e moradia digna. Isso porem não quer dizer que devemos permitir, e legalizar, tudo aquilo feito de qualquer maneira e sem respeitar qualquer lei e ordem.

A palavra tabu REMOÇÃO tem que voltar a pauta do estado e da sociedade. Será que estes vastos investimentos feitos pelo estado não podem ser melhor aproveitados? Vamos tomar como exemplo o Morro da Providência que acaba de receber uma UPP e vai ser beneficiado com rios de dinheiro para uma reforma profunda, com a instalação inclusive de um teleférico ligando o Morro ao asfalto orçado em 150 Milhões de reais. Segundo o IBGE moram nesta favela e nas pequenas comunidades adjacentes aproximadamente 10 mil pessoas. Segundo IBGE também o numero médio de pessoas por família nas classes sociais mais baixas da região metropolitana do Rio de Janeiro é de 4,2 pessoas por família.

Agora vamos ao calculo. Vamos assumir que estes 150 milhões de reais fossem gastos em remoção e realocação destas famílias em vez da reforma da favela. Temos portanto aproximadamente 2380 famílias a serem realocadas. Se dividirmos 150 milhões pelo numero de famílias chegaremos a 63 mil reais por família. Claro que hoje em dia não se acha um apartamento no centro ou entorno por esse valor capaz de abrigar uma família de mais de 4 pessoas de forma descente. Mas lembrem-se, estamos falando somente do valor de uma das obras que vai ser feita na favela. E estou comparando com valor de apartamento já construídos. Certamente sairia mais barato para o estado construir apartamentos do zero. Vamos assumir então que o Estado de mais um pouco de dinheiro e banque um apartamento de 100 mil reais por família. Com 238 milhões de reais poderíamos portanto remover COMPLETAMENTE o Morro da Providência.

Ademais, não sou a favor da “doação” de apartamentos para favelados. Estes apartamentos deveriam ser financiados com subsidio pesado. Algo em torno de um pagamento de 100 reais mensais pelos próximos 10 anos, com a condição obrigatória que o imóvel não pode ser vendido e nem alugado pelos próximos 25 anos. E agora vem o pulo do gato para um plano de dês-favelização de longo prazo. Estes 100 reais mensais devem retro-alimentar o sistema de dês-favelização. Ou seja, estas 2380 famílias pagarão mensalmente 238mil reais capazes de “remover” mais duas famílias por mês de alguns outra favela da cidade. E pouco no inicio, mas se pensarmos que o estado investe muito mais em muitas outras favelas poderíamos ter um investimento inicial muito maior (quem sabe na casa do Bilhão) e posteriormente um sistema de longo prazo capaz de remover dezenas de famílias de favelas por mês. Um sonho distante e certamente complexo. Mas uma alternativa a proposta de perpetuar as favelas como vemos atualmente.

Fonte: http://www.caoscarioca.com.br/?p=772

Um comentário:

Isabel disse...

Eu penei pra pagar metade de um imóvel avaliado em 100 mil (sabe-se lá quando vou conseguir quitar tudo), e tem gente que vai ganhar casa e ainda reclama. Se eu levar todo dia 3 horas pra ir e 3 horas pra voltar de casa pro trabalho, é problema meu. Mas os moradores dessas comunidades não podem ir pra longe. Reclamam ainda de perder os vínculos criados na região, mas se eu já rompi diversos vínculos por necessidade, isso é problema meu. Aqui, a classe média só tem o direito é de pagar imposto (e todo mês tem uma boa fatia do meu salário indo pro governo), pra bancar todos esses investimentos. Mas uma coisa eu te digo: se no final conseguirem acabar com boa parte das favelas do Rio (todas é uma utopia), já vou ficar feliz e nem me incomodarei tanto com o governo metendo a mão no meu bolso.
Beijos

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