segunda-feira, 12 de abril de 2010

A desordem resiste

Prazeres: moradores dizem que vão resistir à remoção

Flávio Dilascio, Jornal do Brasil


RIO DE JANEIRO -

Moradores do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, afirmaram ontem que resistirão à iniciativa da prefeitura de transferir toda a comunidade para a área antes ocupada pelo presídio Frei Caneca, no Estácio. Eles alegam que nem todas as partes da favela oferecem risco e que vários imóveis interditados pela Defesa Civil nos últimos dias seriam seguros. O Morro dos Prazeres foi uma das áreas mais atingidas pelas fortes chuvas da semana passada, com 30 mortes registradas até a noite de ontem.

– Estão fazendo tudo de uma forma errada, pois nem a Defesa Civil nem a Geo-Rio vistoriaram os imóveis que vêm recebendo ordem de desapropriação. Como podem saber se uma casa está em uma área de risco se não fizeram uma análise dela e de suas cercanias? – critica a presidente da Associação dos Moradores do Morro dos Prazeres, Eliza Brandão da Silva.

Segundo a Secretaria Municipal de Habitação, oito comunidades começarão a ser retiradas a partir desta semana, começando pelo Morro do Urubu, onde a situação é considerada a mais crítica de todas. Todos os moradores reassentados receberão aluguel social de R$ 400 até resolverem seus problemas de moradia. O valor, entretanto, não agrada grande parte das famílias.

– Onde vamos morar até o conjunto habitacional do Frei Caneca ficar pronto, o que deve levar uns dois anos? Enquanto isso, vamos ter de viver com essa quantia irrisória em algum local alugado? Há cerca de dois anos, uma família daqui perdeu dois de seus membros num desmoronamento. Receberam esse aluguel social da prefeitura para morar em outro lugar e estão muito mal financeiramente – relata Eliza. – Tem quatro anos que fazemos solicitações de obras de contenção à prefeitura. Só depois de uma tragédia que eles se mobilizaram – completa.


Estratégia para permanecer

Para lutar pelo direito de permanecer no local, a Associação dos Moradores do Morro dos Prazeres conseguiu, junto à Defensoria Pública do Município, uma equipe de arquitetos e engenheiros que irá hoje à comunidade avaliar quais imóveis realmente estão em situação de perigo. Em todo o complexo do Morro dos Prazeres (que engloba as favelas do Escondidinho, Vila Elza e 42) moram cerca de 12 mil pessoas, segundo a associação.

– Contestamos muito essas interdições de agora, pois recebemos anos de obras do Favela-Bairro. No meu caso, por exemplo, tive que pegar o documento de desapropriação sem sequer terem ido à minha casa – diz a assistente social Zoraide Gomes, há 28 anos no Morro dos Prazeres.

Alguns moradores estão revoltados por causa do alto investimento feito em suas casas.

– Deveriam fazer uma avaliação imobiliária antes de nos retirar. Minha casa vale pelo menos uns R$ 20 mil, e eu nunca teria retorno pelo meu investimento se fosse colocada em uma moradia da prefeitura – afirma a recepcionista Josilene Alves, 32 anos, que mora com o marido e a filha. – Temo ainda não ser realocada em lugar algum, pois até agora não nos avisaram sobre o nosso destino – finaliza.



Fonte: http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/04/12/e120425024.asp

Um comentário:

Isabel disse...

Acham R$400 um valor irrisório??? É brincadeira... Acho que é um valor até alto demais. Afinal, se dá pra comprar armários de R$1000 (sim, havia moradores reclamando que perderam armários de mais de mil reais no Morro do Urubu)... Esse dinheiro não é pra resolver a vida de ninguém, mas pra ajudar, já que são todos trabalhadores e possuem renda própria. Os que não possuem, certamente estão inscritos em algum dos diversos programas assistencialistas do governo.

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